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DIFICULDADES DE VIVÊNCIA EM COMUNIDADES
Este texto foi inspirado em outra publicação no
"blog do ao contrário"
AUTO-CRÍTICA E CAMINHOS A SEREM SEGUIDOS
Não vou fazer uma crítica, mas uma auto-crítica, pois estou metido até o
pescoço nesta luta de fazer a minha parte e estimular a outros que o façam
: desvincular-me deste sistema consumista de bens tecnológicos
imprestáveis, cada vez mais, como um sumidouro; deixar para trás a
individualidade e viver mental e espiritualmente no coletivo; buscar
aumentar o meu atual nível de auto-produção, de auto-suficiência; ficar
mais com a perna e o pé direito no campo, nos ideais concretos do coletivo
e bem menos com o esquerdo na cidade, no consumismo e no individualismo
(todos, em graus diferenciados, exibem esta tendência). Enfim, luto comigo
mesmo e com conceitos equivocados e arraigados na sociedade, assim como
tantos outros e outras.
Porém, tenho sentido nesta caminhada, neste campo de batalha, muitas
dificuldades. Não exatamente em relação ao sistema econômico/social e
político dominador, mas em relação a mim mesmo e aos grupos que tentam
vivenciar princípios de auto-produção e vida coletiva, tendencialmente "sem
necessidade de dinheiro".
A PRIMEIRA DIFICULDADE : deixar de lado os bons recursos da
tecnologia ?
A primeira dificuldade é a questão : iríamos prescindir dos bons recursos
tecnológicos, como os que possibilitam a comunicação, a música, a obtenção
totalmente limpa de energias e muitos interessantes recursos advindos da
natural inventividade humana ?....Pois o ideal de se viver sem dinheiro dá
esta impressão : que basta trabalharmos pouco para obtermos as necessidades
básicas. Mas, e os bons recursos tecnológicos ?....Duas soluções se
apresentam : vivência e produção de bens e serviços de forma coletiva
(comunista, mesmo) por grupos isolados (comunidades de vivência, e não
simplesmente ecovilas), economicamente viáveis. E a solução definitiva, em
abrangência territorial, que seriam os ideais socialistas e comunistas
implantados livres e conscientemente (ao longo de séculos !!). No entanto,
esta solução possibilita a existência de um poder maior, à mercê da mesma
ganância dominadora, não necessariamente de sede de poder econômico,
mas de poder ideológico, sendo neste sentido um risco. Ou então seria
possível "Um Mundo Sem Governo", anárquico, onde grupos se
auto-regulariam em mini governos ?....O anarquismo parece uma
contradição, quando observo que na prática (minha reduzida vivência
de tentar formas coletivas de vida e de produção, e observar os resultados
de outras tentativas) - pelo menos no estágio consciencial e espiritual
dos seres humanos da atualidade - são necessárias leis, normas, enfim,
disciplinas, mesmo que aceitas de forma amorosa e livre, para se ter
sucesso em formas de vida ou produção coletivas. A maioria das
ecovilas de vivência - ou outras denominações que se queiram - transitam
por estes questionamentos.
A BARREIRA DO INDIVIDUALISMO
Percebo claramente esta dificuldade : a de que as formas de vivências
coletivas - imprescindíveis à total relação de sustentabilidade com a
natureza - começam às mil maravilhas enquanto a inteligência emocional
positiva atrai as mentes e os corações, formando egrégoras fortes e
atrativas, mas que, com o passar de dias, semanas, meses ou no
máximo anos, são desconstruídas pelas ingerências da inteligência
emocional negativa, pelo apego à posse individual, ou, na melhor
das hipóteses, experimentam constantes transformações
desgastantes e principalmente trocas improfícuas dos seus participantes
(a comunidade permanece, não pela constância dos seus participantes,
mas pelo revezamento de novos que entram e saem).
Em outras palavras : amizade, amor, união no inicio, e desafeto,
individualismo e desunião no final. Como superar esta segunda e terrível
dificuldade ?....Creio que ao longo dos séculos, pelo cultivo das
qualidades espirituais. Não se consegue pela racionalidade ou o medo,
a não ser quando infundidos pelo fundamentalismo(religiões
mais ortodoxas) e pelo totalitarismo(estados impositivos).
TENDÊNCIA A MANTER O PADRÃO DAS CLASSES MÉDIA E ALTA ?
Uma terceira dificuldade que estou estes dias(na verdade nos últimos meses)
"sentindo" é que a vanguarda, a classe pioneira que oferece esta nova forma
de vida em relação à sociedade e em relação à natureza, é a classe média e
rica, em sua maioria, como um sub-produto da necessidade de iluminação
promovida pela aquisição do conhecimento : as universidades que, no Brasil,
ainda infelizmente, formam uma maioria de jovens das classes média e alta.
Tudo bem : eles são como que a pupila dos meus olhos, e os amo, pois
são ainda maioria nesta luta de transformação de valores da sociedade,
mas estes olhos parecem ter a maior dificuldade em não se considerarem
especiais por terem a cor de suas pupilas azuis. Me refiro que o apego ao
padrão social de suas famílias, à dependência ao condicionado status de
comodidades e aos liames quase que indissociáveis de suas origens
culturais, os impedem de compartilharem economicamente 100% de
seus dons e habilidades, natas ou adquiridas pelo estudo. Desta forma,
ecovilas e comunidades são ainda relativamente elitistas, devendo seus
membros se esforçarem ao máximo para superarem esta barreira.
Na prática, participantes em comunidades, por exemplo, que tem
momentaneamente baixo poder aquisitivo, mesmo que se tratados como
irmãos e como "somos um", terminam por serem indiretamente usados
como mantenedores dos status daqueles que "sustentam" com dinheiro
obtido em trabalho externo, pelo menos o básico da comunidade.
Sobra para os que trabalham internamente as tarefas mais árduas :
cozinhar, limpar, produzir alimentos e utensílios, construir, etc, embora
realizados, na maioria das vezes, em espírito de alegria. Esta situação
é uma velada réplica do sistema classista da sociedade que tanto
criticamos.
Uma das possíveis soluções para esta dificuldade seria a igualdade de
condições de participação - de difícil realização - ou seja : que todos
trabalhem fora meio dia e todos trabalhem na comunidade o outro meio dia,
ou forma similar de tendência equânime.
Outra possível solução seria primeiramente a conscientização deste estado
precário e, em seguida, a estipulação de um prazo para a comunidade
alcançar o nível de total auto-suficiência, ou seja, muitos abnegarem
de suas profissões no mundo exterior e todos trabalharem e interagirem
nas mesmas frentes, e dedicando basicamente o mesmo tempo.
Numa fase posterior, estas frentes das quais todos participam, podem se
integrar parcialmente ao sistema, ou serem independentes, como produzir
bananas-passa para serem vendidas no mercado comum(parcial interação
econômica coletiva com o sistema externo) e produzir utensílios mais
ecológicos que são trocados com outras comunidades em sintonia de ideais
(interação econômica coletiva restrita a grupos afins).
A quase total dependência de recursos econômicos advindos de atividades
educativas, tais como cursos e oficinas - característica marcante das
comunidades e indivíduos alternativos da atualidade - precisa deixar
de ser prioridade, pois somente a vivência ampla do princípio da
auto-produção(o faça você mesmo), e a obtenção de recursos a partir
de suas sobras, é prova de verdadeira sustentabilidade e de uma bela
vida em harmonia com a natureza.
Uma terceira solução é a que eu estou tentando : chamar os jovens(e muitos
adultos engajados, também !!) para se integrarem nas comunidades
populares de maneira quase completa, tornando-se elementos destas
comunidades - trocando experiências e saberes - , ou pelo menos replicando
modelos que representam-nas, integrando-se com os sem-terra, por exemplo.
Desta forma, criam-se grupos de jovens, adultos e anciões alternativos, que
deixaram completamente para trás as suas classes sociais, e que lutam
ao lado de outros grupos populares no objetivo da reforma agrária,
a fim de conseguirem terras para a concretização de comunidades e ecovilas
sociais segmentadas, sendo, assim, atendidos os vários perfis dos
buscadores. Outras formas de integração são possíveis.
IMPOSSIBILIDADE DE SE ATINGIR O ESTADO DE AUTO-SUFICIÊNCIA
QUANDO EM INTERAÇÃO COM O SISTEMA ECONÔMICO CONVENCIONAL
Por falar em auto-produção - e decorrente auto-suficiência - desponta aqui a
quarta dificuldade : a prática atual está me provando que tentar este
estado(o de auto-suficiência) em conexão parcial com o sistema vigente
na sociedade é impossível, e termina por ocorrer o contrário (como na
intenção do blog com link acima !!) : eu, em minha tentativa atual de
concretizar o estado de auto-suficiência, preciso de mais tempo que
um trabalhador registrado para me manter e manter os meus meios
de produção : não é fácil trabalhar por conta e subsistir economicamente
nesta sociedade, mesmo economizando e nada gastando com bens
supérfluos, pois os meios de produção necessários à interação
comunidade-sistema (transporte, comunicação, máquinas, ferramentas
ou suprimentos, mesmo que simples) exigem que se trabalhe muito
para ganhar dinheiro e supri-los. O mesmo ocorre em uma comunidade
que produz coletivamente em sinergia com o sistema. Portanto, interagir
economicamente com a sociedade convencional, e concomitantemente
conseguir sobras de recursos e de tempo, é um mito e uma ilusão.
Esta quarta dificuldade deve ser superada da mesma forma que as
anteriores : primeiramente, pela sua compreensão e aceitação e, em
segundo lugar, pela tomada da decisão de apressar o desligamento de
trabalhar com uma das pernas atrelada à economia da sociedade
tradicional, e a outra em acanhadas atividades de auto-produção.
Enfim, atingir o mais rápido possível a meta da auto-suficiência
(individual, familiar(muito difíceis), ou coletiva).
VOLTAR AO SISTEMA OU RESCINDIR COM ELE
Na prática, ocorre que as comunidades com aparente sucesso
sempre absorvem recursos(energias) do sistema exterior, através
da prática de todos, ou de alguns dos seus membros, em utilizarem-se
da "mais valia" - incluindo a trabalhista - transferindo-a
para a comunidade. Um erro palpável que precisa ser evitado e
mais um motivo para todos se apressarem e se definirem : ou voltam
para o sistema estratificado em suas classes, e consumista
(mesmo que ocultado por acanhadas ações de "consumo sustentável
e consciente"), ou rescindem mais rapidamente com ele.
Luiz A. V. Spinola - junho/2015
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